A alimentação escolar é um tema que vem merecendo análises ao longo dos últimos anos. Anteriormente, os alunos da rede pública recebiam alimentos que não eram balanceados e que poderiam, inclusive, estimular a obesidade, hipertensão e outros problemas que hoje já não são incomuns em crianças e adolescentes. Não era raro o cardápio alimentar das escolas trazerem embutidos, comidas com alto valor de sal ou gordura saturada.
Na cidade de Duartina uma iniciativa busca mudar esse cenário, oferecendo aos alunos da rede municipal e estadual alimentos mais balanceados. Neste mês de fevereiro, a Prefeitura local — responsável pelo fornecimento da alimentação das escolas de ambas as redes — testou, com sucesso, o oferecimento de alimentos preparados com polpa de tilápia, produto que conta com vários elementos nutricionais e que certamente enriquecerão a dieta dos alunos duartinenses.
Para o oferecimento dessa alimentação, a Prefeitura de Duartina firmou um contrato com a empresa Santa Ana Aquacultura, que conta com uma grande experiência no mercado de peixes, através da criação de alevinos e da implementação do frigorífico Fish Fácil, especializado em tilápias de alta qualidade.
Pelo projeto em desenvolvimento em Duartina, uma vez por semana as crianças e adolescentes da rede de ensino terão acesso a alimentos preparados com a polpa de tilápia. Dentre os pratos que deverão ser oferecidos estão o macarrão e o picadinho com tilápia, sendo que novas receitas deverão ser testadas em breve.
“Buscamos oferecer algumas receitas diferenciadas, tentando atrair, inclusive, aquelas crianças que têm alguma resistência em comer peixe. Fizemos algumas receitas, várias pessoas ligadas à administração provaram os pratos que, efetivamente, estão tendo boa aceitação por parte dos alunos”, apontou Ênio Simão, prefeito de Duartina.
Segundo ele, os 3 mil alunos das redes municipal e estadual deverão passar a contar com esses pratos na alimentação. “É uma garantia de oferecimento de um produto muito mais balanceado, com uma qualidade nutricional diferenciada”, declarou o prefeito. No dia 18 de fevereiro, primeiro dia de aula do ano letivo de 2008, um teste foi promovido em algumas escolas com o cardápio diferenciado. Na escola “João Solineo”, no bairro Sebastião Pupo, os alunos de ensino fundamental aprovaram plenamente a alimentação, demonstrando que o peixe não sofre grandes restrições pelo público infantil, principalmente quando associado a outros alimentos, como o macarrão, a batata, entre outros.
“Além disso, temos de destacar que o peixe tem uma leveza muito maior que a carne, por exemplo. Ele é digerido rapidamente e isso traz uma sensação de bem-estar mais rápida, ao contrário do que ocorre com os alimentos pesados”, lembrou Simão.
Opção viável — Para o proprietário da Santa Ana Aquacultura, Fernando Nagano Gomes Fernandes, a experiência efetuada em Duartina comprovou que é possível incluir o peixe na alimentação escolar e oferecer, dessa forma, um alimento saudável para os alunos. Ele lembrou que outra vantagem desse produto é o seu custo, que é muito menor que o da carne, por exemplo.
“Essa polpa conta com a inspeção da vigilância sanitária, sendo preparada no frigorífico que mantemos na cidade de Garça. Outra vantagem é a padronização. Ela é preparada sempre com a tilápia, ou seja, não há o risco de ter um valor nutricional menor”, esclareceu Nagano.
A tilápia tem um potencial nutricional dos mais consideráveis. Essa espécie é rica em Ômega 3, com cerca de 90 miligramas a cada 100 gramas de sua carne, e a lisina, que permite a quem dela se alimenta a sensação de leveza, já que ela é digerida de forma muito mais rápida, além do alto valor protéico. A polpa oferecida na alimentação das escolas de Duartina tem outro diferencial: a tilápia utilizada em sua fabricação é um peixe criado em cativeiro, o que faz com que a carne não tenha um gosto forte de barro, como ocorre com as espécies pescadas em rios.
Segundo Nagano, o valor nutricional da polpa é praticamente o mesmo de um filé de tilápia que hoje é comercializado nos supermercados. No entanto, enquanto um filé pode ter um custo em torno de R$ 15, a polpa tem a possibilidade de ser comercializada em um nível próximo a R$ 3.
“Se pensarmos nesses valores para a alimentação escolar, veremos a viabilidade. Qual carne bovina seria possível adquirir por R$ 3. Apenas aquela com muito sebo, gordura, ou seja, que não seria a ideal para ser servida, ocorrendo o mesmo com o frango, já que ossos e peles não são aproveitados”, explicou o proprietário da empresa.
A escolha de Duartina para esse projeto ocorreu com contatos entre ambas as partes, sendo que a Prefeitura daquela cidade vinha buscando alternativas alimentares para o oferecimento nas escolas, pensando na melhoria da qualidade nutricional daquilo que é consumido pelos alunos. “Assim, fechamos esse projeto piloto, no qual os alunos passarão ter um alimento com um valor nutricional alto e com receitas diferenciadas”, sustentou Nagano.
Campo Grande — Nesta região do Estado de São Paulo essa é uma experiência inovadora. Em outras partes do país esse tipo de mudança na alimentação escolar já foi testada e com sucesso. É o caso de Campo Grande, no Mato Grosso, onde as crianças e adolescentes das escolas públicas passaram a contar com a polpa de tilápia em seus cardápios.
Um grande frigorífico da região, que abate cerca de 10 toneladas de peixe por dia, fez uma parceria com a Prefeitura de Campo Grande, oferecendo esse produto para que passasse a ser um dos integrantes dos itens que fazem parte da composição da alimentação servida nas escolas, embora a população local esteja mais acostumada a consumir peixe.
Na cidade mato-grossense, o macarrão com polpa de tilápia é uma das refeições que maior aceitação tem entre os estudantes que passaram a consumir um alimento rico, no que se refere à nutrição, e cujo custo para os cofres municipais é reduzido.
São inovações importantes e iniciativas que permitirão o oferecimento de melhor alimentação para as crianças e adolescentes da rede pública de ensino. Aproveitando os vários potenciais de produção do Brasil, como é o caso dos peixes, de frutas, hortaliças, entre outros produtos, é possível encontrar soluções como a de Duartina e Campo Grande, que reduzem os custos com o alimento, ao mesmo tempo em que permitem que mais qualidade e saúde cheguem aos pratos dos alunos.